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sábado, 10 de abril de 2010

Sobre Aventuras Heróicas












O mestre manda o grupo fazer personagens de nível 23, todos armados com poderosas armas mágicas e capazes de, cada um, derrotar um exército; na história do clérigo o jogador coloca que o personagem é o líder de uma igreja numa grande cidade, mas o mestre não permite. Segundo ele, é uma posição além das capacidades dele.
O narrador dá a cada jogador 300 pontos de experiência na criação de seu Mago para fazer uma aventura heróica com seus jogadores. Um dos jogadores decide que seu personagem é o mestre de uma grande capela que almeja – e logo alcançará – o posto de mestre mago, além de ter mestrado nada menos que duas esferas, mas o narrador não permite. Segundo ele, os jogadores não possuem capacidade para tal.
Em ambos os casos os jogadores receberam enormes quantias de poder disponível e decidiram gastá-lo, mas segundo seus narradores/mestres, seus personagens ainda não são capazes dos atos de suas histórias. Por quê?
Essa discussão veio à tona numa conversa casual com um amigo da Universidade. Lendo o “Piratas e Pistoleiros” da linha Tormenta para D20 da editora Jambo pude observar que alguns dos maiores heróis (ou vilões) de Arton – como James K (famoso por Holly Avenger), Tina Tirocerto, Izzy Tarante, Savana e Tom Callahan – sequer chegaram ao nível épico. Realmente, por que um personagem que passou do nível desses personagens não pode ter a mesma ou mais importância no cenário que esses? Por que eles são NPC’s e ele é um personagem jogador?
Claro que qualquer modificação na história do cenário deve ser feita com resguardo, especialmente se puder ser prejudicial ao jogo. Afinal, se o posto alcançado pelo personagem o põe num “status qüo” acima dos outros jogadores ou faz com que ele não tenha motivos para interagir com estes, há um problema! No entanto, se eu quero iniciar um jogo de RPG com personagens poderosos – ou permito que, ao longo de um longo tempo jogando, esses personagens atinjam tal estágio de desenvolvimento – tenho que, como mestre/narrador cuidar para que esses personagens sejam coerentes. Claro que um personagem não se torna Rei-Imperador do Reinado só por chegar ao nível 30, mas ele pode ser um general do exército do Reinado contra a Tormenta – se sua história, vivida em jogo ou narrada/escrita pelo jogador na criação do personagem permitir tal feito – ou um dos homens mais importantes de um reino ou do reinado.
Isso não vale só pra D20. É mais fácil usar esse sistema para exemplificar por que ele é o que mais detalhadamente trata de personagens que já começam com um nível alto de poder, mas basta ver o exemplo do Mago mais acima (usei um referencial de experiência do antigo Mago, se alguém não percebeu, por que ainda não conheço o sistema do novo) para perceber que a maioria dos sistemas, de um jeito ou de outro, permite começar com personagens mais poderosos. A questão é que a maioria das pessoas não está pronta para ver tanto poder nas mãos dos jogadores.Eu sou a favor da coerência. Se seus jogadores possuem poder para tal, permita-os. Isso é parte da diversão. Mas se você não gosta de ver o jogo abalado pelas apelações dos jogadores, não dê a eles tanto poder. Uma narração com personagens mais fracos e oponentes mais fracos pode ser tão divertida quanto a narração épica, afinal, os desafios que serão apresentados serão proporcionais à capacidade dos personagens – e cabe ao mestre/narrador providenciar isso. Além disso, esses personagens também não são fracos. Um personagem de sétimo nível, um mago com 50 de experiência, um personagem qualquer de 3D&T com cinco pontos, todos esses são personagens com considerável poder e respeitados no mundo em que vivem. Eles podem não ser sumo – sacerdotes ou generais, mas considerando o poder de um personagem iniciante, eles são bem poderosos. E quem disse que jogar com personagens iniciantes não é divertido também? Afinal, há poucas satisfações maiores que ver seu personagem iniciante lutando por seu lugar no mundo e aos poucos ir chegando lá – ou não – devido ao próprio esforço.

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